FATOS DO BRASIL IMPÉRIO

Bem vindo ao blog FATOS DO BRASIL IMPÉRIO. Aqui são narrados fatos da época do Império, geralmente pouco conhecidos, extraídos do livro REVIVENDO O BRASIL-IMPÉRIO, que publiquei sob o pseudônimo Leopoldo Bibiano Xavier. Leitura muito útil, que dá uma visão realista do modo como o Imperador Pedro II conduzia os destinos do País.
Você está convidado a visitar também os sites referentes ao meu livro mais recente, A VOLTA AO MUNDO DA NOBREZA, que contém mais de 1.700 fatos mostrando a atuação da nobreza em diversos países e épocas:
www.mundodanobreza.com.br
www.fatoshistoricos.com.br

Leon Beaugeste

4.6.08

12 - ALGUNS PERSONAGENS DO IMPÉRIO BRASILEIRO

Seriedade e honradez nos homens do Império

Na atualidade, há um consenso geral em torno de se evitar reconhecimento de mérito a tudo o que for expressão de elite. No entanto, é mais do que certo que país algum pode aspirar a crescer sem o concurso dos melhores, sem o aproveitamento de seus maiores talentos e capacidades. O rol dos talentos era tão grande, no Império, que tornava-se difícil apontar os que sobressaíam. Foi o que Machado de Assis imortalizou em “O Velho Senado”. Por isso mesmo o País havia assumido uma posição que em muitos aspectos causava inveja no exterior: éramos uma ilha de paz e progresso na América do Sul.

Em uma visita de D. Pedro II a Victor Hugo, este lhe perguntou se não tinha receio de deixar o seu Império por tanto tempo, ao que o Imperador respondeu:
— Não. Os negócios públicos fazem-se perfeitamente na minha ausência. Há na minha terra muitas pessoas que valem tanto ou mais do que eu. Além disso, aqui não perco o meu tempo. Reino sobre um povo jovem, e é para esclarecê-lo, torná-lo melhor, fazê-lo marchar para a frente, que uso dos meus direitos, ou do poder que me coube pelos acasos da fortuna e do nascimento.

Escrevendo sobre os ministros de Estado do Segundo Reinado, o Conde Afonso Celso acentuou: “Nenhum ascendeu ao Governo por mero favoritismo ou por capricho, nenhum comprometeu a dignidade governamental, nenhum foi vergonhosamente esmagado, nenhum se portou de maneira ignóbil nem deixou nome odioso na tradição popular. Nunca, um só que fosse, se aproveitou de suas funções para locupletar-se. Todos se exoneravam endividados ou menos ricos. Era um sacrifício ser ministro”.
Joaquim Manuel de Macedo, o célebre romancista autor de “A Moreninha”, era deputado e professor das princesas, filhas de D. Pedro II. O Conselheiro Francisco José Furtado, organizador do Gabinete de agosto de 1864, o convidou para a pasta de Estrangeiros. Recusado o convite, mandou o Imperador chamá-lo à sua presença, e indagou o motivo da recusa, tendo em vista que ele possuía tantas qualidades para ser um bom ministro. E a resposta:
— Admita-se que eu tenha as qualidades que Vossa Majestade me atribui. Mas eu não sou rico, e a riqueza é um requisito indispensável a um ministro que queira ser independente. E não quero sair do Ministério endividado ou ladrão!

O Governo republicano, com o intuito de minorar o infortúnio de alguns senadores do Império, ofereceu-lhes uma pensão. A isto reagiu o Visconde de Sinimbu com a seguinte carta: “Na solidão onde vim recolher-me e provisoriamente resido, retirado da vida pública após o cruciante golpe e a suprema desgraça com que aprouve a Deus ferir-me, enviuvando-me no próprio dia da abolição da Monarquia, chegou-me a notícia do decreto do Governo Provisório, concedendo-me a pensão mensal de 500 mil réis. Como resolução que me prescreve a consciência, me dita a dignidade e me impõe a honra, rejeito a graça; e, salva a intenção, repilo-a como afronta e como ultraje à minha obscura pessoa e à minha pobreza honrada”.


Alguns exemplos de desinteresse nos ministros do Império

Os ministros da regência de D. Pedro I reduziram seus ordenados à metade do que eram no tempo de D. João VI. Ficaram em quatro contos e oitocentos mil réis anuais, pagos mensalmente.
José Bonifácio recebeu certa vez o seu salário de quatrocentos mil réis, meteu as notas no fundo do chapéu, e no teatro lhe roubaram o chapéu e o conteúdo. No dia seguinte, achou-se sem ter com que mandar comprar o jantar. Não possuía nem um vintém mais, e seu sobrinho Belchior Fernandes Pinheiro foi quem pagou as despesas do dia.
Em reunião do Conselho, José Bonifácio referiu esta ocorrência e a extrema necessidade a que ela o reduziu e à sua família. O Imperador entendeu que o ministro, visto a penúria em que se achava, devia ser indenizado, pagando-se a ele outro mês de ordenado, e neste sentido deu ali suas ordens a Martim Francisco, irmão de José Bonifácio e ministro da Fazenda.
Martim Francisco não obedeceu. Argumentou com o Imperador que não havia lei que pusesse a cargo do Estado os descuidos dos empregados públicos; que o ano tinha doze meses para todos, e não treze para os protegidos; e, finalmente, pedia a Sua Majestade que retirasse a ordem, por ser inexeqüível, e porque ele, Martim Francisco, repartiria com o irmão o seu próprio ordenado, e viveriam ambos com mais parcimônia aquele mês. Isto seria melhor do que dar ao País o funesto exemplo de se pagar ao ministro duas vezes o ordenado de um só mês.

José Bernardino de Almeida Sodré era ministro da Fazenda, em 1828. Seu colega da pasta da Guerra lhe oficiou, pedindo o pagamento das despesas de transporte, e outras, de alguns operários que o Imperador mandara engajar na Alemanha. Recusado esse pagamento, mandou D. Pedro I chamar o ministro, interpelando-o. Sodré respondeu:
— Senhor, no orçamento que vigora não tenho verba que autorize essa despesa. Ela é, portanto, ilegal, e não a posso pagar.
— Mandei engajar esses homens, e quero que as despesas sejam pagas.
— E sê-lo-ão, Senhor, já que Vossa Majestade o quer.
Dias depois, indagado pelo Monarca sobre o cumprimento da sua ordem, o ministro informou:
— Em face da lei, o Tesouro Nacional não podia pagar a esses engajados. A ordem de Vossa Majestade tinha, porém, de ser cumprida.
— E então?
— Paguei-os do meu bolso particular.

Falando com o Visconde Nogueira da Gama sobre Frei Pedro de Santa Mariana, seu desinteressado professor, D. Pedro II comentava:
— Sabe quanto ele tem sido caluniado...
— Até alcunhado de Frei Malagrida!
— Pois bem. Assevero-lhe que nunca me pediu coisa alguma, sabendo que eu nada lhe negaria do que de mim dependesse.


Pequenos fatos marcantes da vida de Caxias

O major Miguel de Frias, derrotado a 3 de abril de 1832 pelo major Luiz Alves de Lima e Silva, pôs-se em fuga e tentou escapar. Indo ao seu encalço, Lima e Silva foi informado sobre a casa em que o chefe revoltoso se havia asilado. Aproximou-se, e o dono da casa lhe franqueou a residência, que Caxias percorreu. Ao fim de um corredor havia uma porta fechada a chave. Caxias a abriu, e no centro do quarto, de pé, o major Frias o esperava. Os dois se olharam, mudos. Ao fim de um instante Caxias se retirou, dizendo ao dono da casa:
— Desculpe-me. Não há ninguém...
No dia seguinte Miguel de Frias fugia, asilando-se nos Estados Unidos.

Caxias comprara em 1850 uma fazenda na província do Rio de Janeiro. Ao tomar posse, encontrou 60 escravos além do número ajustado. Sem demora, comunicou o fato ao vendedor, que respondeu:
— São escravos da Nação. Continue a desfrutar os seus serviços.
Caxias reuniu os negros e, sem a menor hesitação, lhes deu liberdade incondicional.

Durante a guerra do Paraguai, num dia chuvoso, Caxias estava molhado, a cavalo, debaixo de uma árvore. A cada instante a região era varada por balas de artilharia. Chegou-se a ele um ordenança de cavalaria, trazendo com cuidado uma xícara de café:
— O Sr. Bonifácio de Abreu manda isto a V. Exa. Recomendou-me que não deixasse cair uma só gota no chão.
Olhou-o o marechal calmamente, e disse:
— Eu não quero. Beba-a você, camarada.
Voltando depois para o seu estado-maior, observou:
— Quando os meus soldados estão morrendo na chuva, nesta saraivada de balas, não posso dar-me nenhuma regalia, por pequena que seja.

O Duque de Caxias era ministro da Guerra, quando o Imperador foi visitar, em sua companhia, um dos quartéis da capital. Percorreu o edifício todo, indo até a cozinha, onde se servia na ocasião o rancho dos soldados.
— Dê-me uma destas marmitas – disse o Soberano.
Foi atendido e tomou todo o conteúdo, declarando que, mesmo no Paço, jamais tomara sopa tão saborosa. Disciplinado e disciplinador, Caxias não gostou da singeleza do Monarca. Ao portão do quartel, disse-lhe:
— Desculpai a minha franqueza. Por esse processo, Vossa Majestade não se populariza, mas se vulgariza.

O Imperador admirou em Florença o quadro “Batalha do Avaí”, de Pedro Américo. Quando a obra chegou ao Brasil em 1877, foi vê-la novamente acompanhado de Caxias, então presidente do Conselho de Ministros. Os elogios eram unânimes, mas Caxias, que fora o comandante da batalha e era a figura dominante na tela, conservava-se mudo. Discretamente, o Imperador perguntou-lhe:
— Que diz, Sr. Caxias?
— Desejava saber onde o pintor me viu de farda desabotoada. Nem no meu quarto!


General Osório, o arrojado comandante de homens livres

O Visconde de Taunay foi levar ao general Osório, durante a guerra do Paraguai, uma carta do Conde d’Eu, e o encontrou a ler, sozinho, deitado numa rede. Ao vê-lo, Osório disse:
— Olha! Tu, que és bacharel, deves entender disto. Toma lá este livro e traduze-me este diabo de inglês, que está duro de roer.
Havia no início do livro alguns termos técnicos, que colocaram o improvisado tradutor em apuros, levando-o a muitas hesitações.
— Está bem! Vai bem! – repetia-lhe o general, rindo-se.
Algum tempo depois Osório caiu no sono, e Taunay se retirou de mansinho. No dia seguinte, o general interpelou o tradutor:
— Então, seu safadinho! Foste saindo à francesa, hein?!
— Mas V. Exa. estava dormindo profundamente!
— É verdade! E que sono delicioso! Cheio dos sonhos os mais agradáveis. Sonhei que estava traduzindo corrente e perfeitamente aquele inglês todo, incomparavelmente melhor do que tu, que és bacharel formado.

Em conselho de guerra, discutia-se como tomar certa posição ocupada pelas forças de Solano López. Queria o Conde d’Eu contorná-la, opinando o general Osório por um ataque de frente. Dizia o Conde:
— Mas isto, Sr. Osório, é o que se chama atacar o touro pelos chifres.
— Qual touro, alteza! Nem meio touro! Já foi touro, mas hoje não passa de vaca velha!

Durante a guerra do Paraguai, o general Osório procurou o chefe do corpo de engenheiros, que nada resolvia sem consultar o seu carregamento de livros, e avisou-o:
— Coronel, é preciso atravessar amanhã este rio, com todo o exército.
— Impossível, general.
— Não sei se é impossível, mas sei que é preciso.
— Mas, general, não me é possível dar-lhe os meios para isso.
— O senhor coronel vai ver se passamos ou não.
Osório mandou chamar um major de transportes, homem de espírito prático, que fazia verdadeiros milagres. Disse-lhe o que queria e como queria, e no dia seguinte todo o exército atravessou o rio, inclusive o chefe do corpo de engenheiros, com todo o seu carregamento de livros.

Aos companheiros de armas que o censuravam pela afoiteza com que enfrentava perigosos combates e situações difíceis, Osório respondia:
— Eu preciso provar aos meus comandados que o seu general é capaz de ir aonde os manda.

Grande parte dos soldados que combateram no Paraguai eram negros escravos. Na noite de 15 de abril de 1866, pouco antes de começar a travessia do Rio Paraná, o general Osório, fazendo-se acompanhar de cavaleiros riograndenses conduzindo archotes, passou em revista o seu exército, e disse:
— Soldados, é fácil a missão de comandar homens livres. Basta mostrar-lhes o caminho do dever. O nosso caminho está aí em frente!
Aquela bem escolhida e feliz expressão “homens livres” teve sobre a tropa o efeito de uma eletrização inesperada e irresistível. Os homens, sem distinção de cores ou de raças, abraçaram-se a rir e a chorar, e logo prorromperam em estrondosas aclamações ao seu general. A conseqüência foi o patriótico decreto de 6 de novembro, que deu liberdade gratuita aos escravos designados para o serviço militar.


Hombridade e coerência em políticos do Império

O general Osório, durante a guerra do Paraguai, foi procurado por um negociante que queria vender cavalos ao Exército, na maioria imprestáveis. Queria uma carta do general, recomendando-o à Comissão. Osório respondeu:
— Homem, você é entendido na matéria, e não desconhece as exigências do Governo. Se os seus cavalos são bons, para que quer recomendações?
— Para evitar injustiças.
— Pois, então, escreva você mesmo o que vou ditar. E ditou:
“Ilustríssimos senhores: O portador vai conduzindo uma cavalhada, que pretende vender ao Estado mediante o prévio exame da Comissão, de que V. Sas. são digníssimos membros. A primeira condição para a boa cavalaria é a velocidade, e esta depende da excelência dos cavalos. Portanto, seria escusado lembrar duas coisas: primeira, que os animais imprestáveis que o portador apresentar devem ser refugados; segunda, que V. Sas. devem ser rigorosos no cumprimento das ordens do Governo. Esta carta só tem por fim pedir que V. Sas. despachem com brevidade o portador”.
— Não, general. Esta carta não me serve.
— Pois dê-ma – disse Osório, tomando-a de cima da mesa e rasgando-a –. Que queria de mim? Uma indignidade? Que idéia faz o senhor da honra alheia? Se não a tem, respeite a dos outros.

Em junho de 1889, ao apresentar-se o novo ministério na Câmara dos Deputados, o deputado padre João Manuel declarou-se republicano, e concluiu o seu discurso bradando: “Viva a República!”
Levantando-se, o Visconde de Ouro Preto retrucou energicamente:
— Viva a República, não! Não e não! Pois é sob a Monarquia que temos obtido a liberdade que os outros países nos invejam, e podemos mantê-la em amplitude suficiente para satisfazer as aspirações do povo mais brioso. Viva a Monarquia! Forma de governo que a imensa maioria da Nação abraça, e a única que pode fazer a sua felicidade e a sua grandeza.

Preso na noite de 15 para 16 de novembro, o Visconde de Ouro Preto foi conduzido ao quartel do 1º Regimento, onde adormeceu. Alta noite, entrou no compartimento um oficial, o tenente Menna Barreto, que lhe gritou:
— Acorde e prepare-se, que mais tarde tem de ser fuzilado.
Ouro Preto se pôs de pé e replicou:
— Só se acorda um homem para o fuzilar, e não para o avisar de que vai ser fuzilado. O senhor verá que, para saber morrer, não é preciso vestir farda!

Exilado em Lisboa, o Visconde de Ouro Preto participava de uma roda de várias pessoas, em visita a um comerciante rico. Um dos visitantes, que fizera fortuna no Brasil e voltara para Portugal, resolveu interpelar o Visconde, em tom de agrado:
— Hein, Sr. Visconde! O povo daqui tem mais fibra que o de lá. Não presenciaria bestificado a queda do regime, conforme a expressão de um ministro da República. Nem deixaria, sem reação, ser expelido um soberano como D. Pedro II, e uma sumidade como V. Exa.
Com veemência, o Visconde respondeu:
— O senhor não tem competência para julgar a gente da minha terra. É tão digna, altiva e capaz de bravura quanto a portuguesa. Pelo menos, lá não há quem deixe o Brasil para vir ganhar dinheiro em Portugal, e depois regresse ao Brasil a falar mal dos portugueses.
Depois destas palavras, houve um longo silêncio. Então o Visconde ergueu-se, acrescentando:
— Já que ninguém mais protesta contra a injustiça feita a meu País, retiro-me como um novo protesto.


Amenidades entre políticos do Império

Em um folhetim de 1855, dizia José de Alencar:
“No salão recebem-se todas as visitas de cerimônia ou de intimidade; dão-se bailes, reuniões dançantes e concertos. Conversa-se ao som da música, conferencia-se a dois no meio de muita gente, de maneira que nem se fala em segredo, nem em público.
Se a palestra vai bem, procura-se alguma chaise-longue num canto de sala, e a pretexto de tomar sorvete ou gelados, faz-se uma transação, efetua-se um tratado de aliança. Se a conversa toma mau caminho, aí aparece uma quadrilha que se tem de dançar, uma senhora a que se devem fazer as honras, um terceiro que chega a propósito, e acaba-se a conferência. Livra-se assim o ministro do dilema em que se achava, do comprometimento de responder sim ou não”.
O Barão de Cotegipe definia pitorescamente a atividade social e política dos salões: Não se faz política sem bolinhos.

O Marquês de Abrantes nunca se convencera da surdez do Marquês de Olinda, seu amigo. Era uma surdez política, que melhorava ou piorava de acordo com a vontade do doente. Certo dia Abrantes resolveu pôr à prova o assunto. Enquanto jogavam cartas, disse em voz baixa, quase inaudível:
— Veja lá como joga, velho besta!
— Que diz?
— Digo que o senhor joga admiravelmente...
Terminada e ganha a partida, Olinda perguntou:
— Então, seu Abrantes, o velho besta jogou bem?
Dando uma gargalhada, Abrantes respondeu:
— Ah! seu Olinda, eu sempre desconfiei que o senhor só era surdo quando lhe convinha. E acertei!

Francisco Acaiaba Montezuma, Visconde de Jequitinhonha, foi senador pela Bahia depois de ter sido o seu nome levado à Coroa três vezes. O implacável “lápis fatídico” do Imperador tinha sobre ele anotações não muito favoráveis, e a indicação só foi conseguida pela insistência do Marquês de Paraná, presidente do Conselho de Ministros.
Morava em uma casa magnífica com grande chácara, no Rio Comprido. O Imperador uma vez lhe disse:
— Sr. Visconde, tenho ouvido falar muito de sua residência. Dizem que é uma bela vivenda.
— Vá Vossa Majestade almoçar lá, e poderá ver que, se não é digna de receber Vossa Majestade, é entretanto confortável para um homem como eu.
O Imperador aceitou o convite, e no dia marcado foi almoçar em casa do Visconde. Durante a refeição, perguntou a Montezuma:
— O Sr. é fatalista?
— Sem dúvida. E tenho motivos para o ser.
— Posso saber quais são?
— Olhe, Senhor. A primeira vez que meu nome veio a Vossa Majestade na lista para ser senador, ao voltar do sertão da Bahia o cavalo em que eu montava tropeçou e eu caí: Vossa Majestade não me escolheu. Da segunda vez deu-se o mesmo fato, e Vossa Majestade novamente não escolheu o meu nome. Pela terceira vez deram-se as mesmas ocorrências, e então Vossa Majestade me escolheu.
— Mas não vejo onde está a fatalidade.
— É que Vossa Majestade havia de me escolher, querendo ou não.

Em fins de 1877, o Duque de Caxias, que presidia o Ministério, ficou muito doente. Para certificar-se do estado de saúde do velho servidor, o Imperador foi visitá-lo na Fazenda de Santa Mônica, e verificou que ele não podia continuar incumbido de tarefa tão árdua. Para substituí-lo, foi indicado o Visconde de Sinimbu.
Combinado com o Imperador o programa do Gabinete, nos termos acerca dos quais estavam de acordo, Sinimbu tratou de formar a sua lista de ministros. A entrada de Silveira Martins no Ministério era não só o reconhecimento dos seus grandes serviços na oposição, mas também a satisfação de uma espécie de compromisso. O notável tribuno era assíduo freqüentador da casa de Sinimbu, onde por vezes repetia que este devia organizar o próximo gabinete liberal. Mas ouvia sempre a resposta:
— Qual! O senhor não pense nisto, pois bem deve saber que será o Nabuco.
Silveira Martins insistia. Um dia Sinimbu o atalhou:
— Pois bem, se eu organizar o Ministério, o senhor será o ministro da Fazenda.
O novo presidente do Conselho não quis que sua palavra voltasse atrás, e Silveira Martins foi para o Ministério.

***

Visite agora os sites:
www.fatoshistoricos.com.br
www.mundodanobreza.com.br

Nenhum comentário: